"O Anjo da Morte" - Josef Mengele


Josef Mengele foi um médico das SS conhecido por suas experiências "médicas" desumanas com os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz.
Nascido em 26 de março de 1911, em Günzburg, próximo a Ulm, ele era o filho mais velho de Karl Mengele, um bem-sucedido fabricante de implementos agrícolas. Em 1935, Mengele obteve o título de Ph.D. em Antropologia Física pela Universidade de Munique. Em janeiro de 1937, no Instituto de Biologia Hereditária e Higiene Racial de Frankfurt, tornou-se assistente do Dr. Otmar von Verschuer, um cientista renomado por suas pesquisas sobre gêmeos.
Em 1937, Mengele se filiou ao Partido Nazista. No ano seguinte, ele recebeu seu diploma de médico e uniu-se oficialmente às SS. Em junho de 1940, Mengele se alistou no exército e, posteriormente, passou a servir como voluntário no serviço médico das Waffen-SS (SS Armada). Embora os registros sejam escassos e geralmente contraditórios em relação às atividades de Mengele entre aquele período e o início de 1943, existem provas de que inicialmente (em meados de 1940) ele serviu como médico especialista do Departamento de Raça e Assentamento [Rasse-und Siedlungshauptamt, ou RuSHA], no Escritório Central de Imigração [Einwandererstelle], na região nordeste da Alemanha, em Posen (hoje Poznan), e posteriormente como oficial médico na Divisão "Wiking" das SS (Batalhão V Pioneiro das SS), na frente da Guerra ao leste, onde participou de ações militares.
Ferido durante a campanha, Mengele retornou à Alemanha em janeiro de 1943 e foi trabalhar no Instituto Kaiser Wilhelm (KWI) de Antropologia, Genética Humana e Eugenia, dirigido por seu antigo mentor von Verschuer. Em abril de 1943, ele foi promovido a capitão das SS; e aquela promoção o levou a, em 30 de maio de 1943, ser transferido para Auschwitz.
Durante o exercício de suas funções, Josef Mengele não era o único médico em atividade em Auschwitz, tampouco era, como muitos acreditam, aquele de patente mais alta naquele campo. Tal "honra" pertencia ao capitão das SS Dr. Eduard Wirths, cuja posição como Médico da Guarnição o tornava responsável por todas as atividades médicas desenvolvidas em qualquer área do campo. Mengele iniciou sua carreira em Auschwitz, em meados de 1943, como oficial médico responsável pelo "campo de ciganos" de Birkenau; várias semanas após seu fechamento, Mengele assumiu uma nova posição como Médico Chefe do Campo de Auschwitz II (i.e. Birkenau), em novembro de 1943, ainda sob a jurisdição de Wirth.
Aproximadamente 30 médicos serviram em Auschwitz durante o período em que Mengele foi designado para aquele campo. Como parte de suas "funções", a equipe médica realizava "seleções" de prisioneiros já na rampa de entrada, determinando dentre a massa de seres humanos que chegavam em Auschwitz como gado, quais iriam trabalhar como escravos e quais deveriam ser imediatamente eliminados nas câmaras de gás. Conhecido como o "Anjo da Morte", ou às vezes como o "Anjo Branco", devido à sua frieza cruel na rampa, Mengele tornou-se o médico mais associado a aquela "tarefa de seleção" do que qualquer outro, embora, segundo a maioria dos relatos, realizasse a tarefa com a mesma frequência que os demais médicos. Sem dúvida, tal associação deve-se parcialmente à sua notoriedade pós-guerra, mas a imagem onipresente de Mengele na rampa em tantos relatos de sobreviventes de Auschwitz, também está relacionada ao fato de Mengele normalmente estava na área de seleção, ainda que "fora do seu turno", sempre que chegavam trens com novos prisioneiros, com o objetivo de encontrar gêmeos para servirem de cobaias em suas monstruosas experiências.
As famosas experiências de Verschuer com gêmeos idênticos e não idênticos, com a finalidade de rastrear as origens genéticas de várias doenças, haviam aguçado o interesse de Mengele em utilizar gêmeos para pesquisas “médicas”. Durante a década de 1930, a pesquisa utilizando gêmeos para investigar a influência de variáveis genéticas (hereditariedade) e ambientais (cultura) no ser humano, era vista como sendo a ferramenta ideal para se compreender como se desenvolvia o comportamento. Naquele período, Mengele e seu mentor já haviam desenvolvido vários protocolos de pesquisa, legítimos, utilizando gêmeos como suas cobaias. Em Auschwitz, com permissão para mutilar ou matar suas cobaias humanas como bem entendesse, Mengele realizou uma grande série de experiências agonizantes e muitas vezes letais com gêmeos judeus e ciganos, a maioria deles crianças.
Ele também tinha interesse em outros tipos de pesquisa, e era fascinado por heterocromia, que é uma condição em que as duas íris de uma mesma pessoa têm cores diferentes. Durante sua permanência em Auschwitz, Mengele recolhia e guardava os olhos das vítimas por ele assassinadas, e fornecia parte do "material de pesquisa" à sua colega Karin Magnussen, uma pesquisadora do KWI dedicada a estudar a pigmentação ocular. O próprio Mengele realizou várias experiências para tentar desvendar o segredo da mudança artificial da cor dos olhos. Sabe-se também, embora isso seja pouco divulgado, que ele documentava o desenvolvimento e o progresso, entre os internos do campo, de uma doença chamada “Noma”, um tipo de gangrena que destrói a membrana mucosa da boca e de outros tecidos.
Mengele apoiava firmemente a teoria racial do Nacional-Socialismo, e criou várias experiências que visavam demonstrar a falta de resistência dos judeus e dos ciganos a várias doenças. Ele também tentou demonstrar a "degeneração" do sangue dos judeus e dos ciganos, registrando quaisquer anormalidades físicas e coletando amostras de tecidos e partes dos corpos das suas vítimas. Muitas de suas "cobaias" morreram devido às experiências ou foram assassinadas para facilitar a autópsia.
Assim como muitos "cientistas" que trabalhavam nos campos de concentração, Mengele ordenava que os profissionais médicos dentre os prisioneiros o auxiliassem na realização das tarefas mais terríveis, nas de rotina, e também para fazer autópsias em suas vítimas. Devemos muito do que sabemos sobre as atividades de Mengele em Auschwitz ao Dr. Miklos Nyiszli, um prisioneiro médico que foi obrigado a ajudar Mengele, em 1946. (Seu livro “Auschwitz: O Testemunho de um Médico”, foi inicialmente publicado em húngaro, seu idioma nativo, e em inglês no ano de 1960 [OBS: o texto é encontrado em português através de ferramentas de busca].)
Josef Mengele esperava utilizar os resultados de suas "pesquisas" em Auschwitz para obter sua Habilitation, i.e. o Pós-Doutoramento, um título acadêmico necessário para admissão no corpo docente de universidades de língua alemã. No entanto, ele nunca concretizou tal sonho. Em janeiro de 1945, quando do avanço do exército soviético rumo à Alemanha, através do oeste da Polônia, Mengele fugiu de Auschwitz, passando as poucas semanas seguintes no campo de concentração de Gross-Rosen até sua destruição pelos próprios alemães, seguindo então para o oeste, tentando evitar sua captura pelas forças soviéticas.
Logo em seguida ao término da Guerra, já prisioneiro, Mengele foi colocado sob custódia norte-americana. No entanto, sem saberem que o nome de Mengele constava da lista de criminosos de guerra procurados pela justiça, os oficiais responsáveis o liberaram rapidamente. De meados de 1945 ao final de 1949, com documentos falsos, ele trabalhou em uma fazenda próxima a Rosenheim, na Bavária. Naquela época, sua família, que era bastante rica, o ajudou a fugir e emigrar para a América do Sul, e Mengele se estabeleceu na Argentina.
Como seus crimes haviam sido muito bem documentados perante o Tribunal Militar Internacional (IMT) e outros tribunais pós-Segunda Guerra, em 1959, as autoridades da Alemanha Ocidental emitiram uma ordem de prisão para Mengele e, em 1960, pediram sua extradição à Argentina. Assustado com a captura de Adolf Eichmann pelos israelenses em Buenos Aires no mesmo ano, Mengele se mudou para o Paraguai e depois para o Brasil, passando os últimos anos de sua vida nos arredores de São Paulo. Já com a saúde debilitada, em 7 de fevereiro de 1979, Mengele sofreu um derrame enquanto nadava em uma colônia de férias em Bertioga, em São Paulo, Brasil, e morreu afogado. Ele foi enterrado em um subúrbio de São Paulo com o nome fictício de "Wolfgang Gerhard".
Em 1985, a polícia alemã, investigando provas recentemente confiscadas de um amigo da família de Mengele em Günzburg, localizou a sepultura de Mengele e exumou seu corpo. Especialistas forenses brasileiros identificaram seus restos mortais como sendo o de Josef Mengele. Em 1992, novas análises feitas através de exames de DNA confirmaram aquela conclusão. O monstro Mengele havia conseguid enganar seus perseguidores por 34 anos.

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