Foto que marcou uma guerra...
Kim Phuc após a explosão do Napalm
Kim contou à BBC sua experiência:
“O perdão me libertou do ódio”
– Kim Phuc.
– Kim Phuc.
Símbolo vivo do horror da guerra do
Vietnã, Phan Thi Kim Phuc ficou conhecida em todo o mundo como a menina
fotografada em prantos, correndo com o corpo queimado. A imagem feita no dia 8
de junho de 1972 pelo fotógrafo da agência Associated Press, Huynh Cong,
conhecido como Nick Ut, rendeu o Prêmio Pulitzer e o World Press Photo of the
Year.
Hoje, Phan Thi Kim Phuc ainda carrega
as marcas do bombardeio, mas se esforça para superar o trauma. “Estive no inferno e percebi que, se mantivesse o
ódio, nunca sairia dele”, disse a
vietnamita em entrevista ao Estado de São Paulo (2008).
Phan conta que jamais esquecerá o dia
8 de junho de 1972. “Estávamos em casa
e, de repente, começamos a ver nossa vila sendo atacada. Corremos para um
templo, que depois também foi bombardeado. Decidimos sair correndo. Ao sair,
senti meu corpo inteiro queimar, como se estivesse em um forno. Era o napalm,
que eu, sinceramente, não tinha ideia do que fosse até aquele momento”, disse Phan, que teve 65% de seu corpo queimado
com agente napalm (gel pegajoso e incendiário).
Seu vilarejo, Trang Bang, fica no sul
do Vietnã, a cerca de 40 quilômetros de Saigon. A bomba foi lançada por
soldados do Vietnã do Sul contra tropas norte-vietnamitas. A operação foi
coordenada por militares americanos, ainda que Washington jamais tenha admitido
seu envolvimento.
Em 1972, ela tinha 9 anos. Enquanto a
foto corria o mundo, sua vida mudava de forma radical. Após o ataque, ela foi
levada para um hospital em Saigon pelo próprio fotógrafo. “Só me lembro que
jogava água no meu corpo.”
Quando chegou ao hospital, as
enfermeiras disseram que a garota não sobreviveria. “Fiquei 14 meses internada e passei por 17
cirurgias”, diz. A última ocorreu na Alemanha Oriental, em 1984. Mas, nem
assim, as marcas desapareceram. “Continuo sentindo muita dor a cada movimento.”
Mais de quatro décadas depois, ela
encontrou uma nova chance de curar suas cicatrizes –ao menos as visíveis. Em
2015, com 52 anos, Phuc começou um tratamento a laser em Miami (EUA) que,
segundo os médicos responsáveis, vão suavizar as dores do corpo e o tecido
cicatrizado que toma seu braço esquerdo, o pescoço e as costas.
Um ano após o ataque, ela voltou ao
vilarejo. “Alguns dias depois, meu pai me
trouxe um jornal e me mostrou a foto. Fiquei horrorizada e chorei sem parar por
vários dias. Foi naquele momento que comecei a entender o que eu tinha vivido.
Além disso, estava muito envergonhada. Não suportava me ver nua em uma foto que
o mundo inteiro viu.”
Phan relata que estava vestida com
uma roupa leve no momento do ataque, a qual foi queimada em alguns segundos.
“Se estivesse usando uma roupa mais pesada, que levasse mais tempo para
queimar, estaria morta. Muitos morreram exatamente desta forma.”
Aos 13 anos, ela foi estudar em
Saigon. Obteve a autorização, alguns anos mais tarde, para estudar medicina em
Cuba, onde conheceu seu marido. Na viagem de lua-de-mel, o avião fez uma escala
no Canadá, de onde o casal nunca mais saiu.
Phan tentou viver no anonimato, mas
foi descoberta nos anos 90. “Um
dia, estava andando na rua em Toronto e alguém me disse que sabia quem eu era.
Foi aí que eu entendi que não poderia mudar o passado, mas que poderia alterar
o significado do que ocorreu.”
Kim Phuc mora em Toronto desde 1992,
com o marido e dois filhos, Thomas, de 18 anos, e Stephen, de 15. Em 1997, foi
chamada para ser embaixadora da boa vontade das Nações Unidas (ONU) e criou
a Kim Foundation International,
que fornece suporte médico e psicológico como forma de superar as experiências
traumáticas. A instituição tem projetos em escolas e hospitais em países como
Uganda, Timor-Leste, Romênia, Tadjiquistão, Quênia e Afeganistão. Um livro
sobre sua vida foi lançado em 1999, assim como um documentário posterior.
Recentemente, ela reencontrou o fotógrafo que eternizou sua imagem. Os dois se
encontraram em New Jersey, nos Estados Unidos. “Ele se tornou parte da minha família, nos tornamos
amigos muito próximos”.
“Minha vontade era ter morrido
naquele dia, junto à minha família” –
disse. “Foi difícil carregar todo esse
ódio, essa raiva.”
“O perdão me libertou do ódio”, escreveu em sua biografia, “The girl in the
picture“.
“Ainda tenho muitas cicatrizes no
corpo e uma forte dor quase todos os dias, mas o meu coração se purificou. O
napalm é muito potente, mas a fé, o perdão e o amor são mais fortes. Não
teremos mais guerras se todos aprenderem a conviver com o verdadeiro amor, com
a esperança e o perdão. Se isso foi possível com a menina da foto, pergunte-se:
será que eu também posso?”
fonte e créditos: Fontes: estadão|veja|uol notícias
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